Comentário Álvaro Domingues:"O subúrbio não é para subtilezas"

13.11.2015

O subúrbio não é para subtilezas. Subordinado, pouco submisso, submerso em dívidas e subemprego. Lugar do submundo, subversivo; matemática de subtrair; subdivisor comum de subculturas; subconjunto de substantivos indefinidos feitos de vagas substâncias.Subdesenvolvido mas, sobretudo, subterfúgio para exorcizar o lado escuro da sublime da urbanidade

 

O domínio geográfico e semântico do subúrbio com todo o seu rol de imagens pejorativas, acaba por garantir o efeito de preservação da ideia luminosa de cidade, construindo-lhe uma blindagem que faz com que tudo o que seja indesejável e perturbador da boa imagem urbana, faça ricochete e aterre nessa zona franca desqualificada. A cidade é o centro, o subúrbio, a periferia – a cidade é um interior com forma, centro e limites perfeitamente claros; o subúrbio é um exterior desconfinado, instável, sem forma, sem história, sem linhagem. A cidade é extraordinária, o subúrbio é ordinário e por isso constitui uma espécie de duplo afastamento: um afastamento físico ao centro e um afastamento social às elites. Simples, como todas as dicotomias; completamente falsa também por isso.

 

Subúrbio é um conceito eminentemente político preenchido com todos os seus sentidos ideológicos: caberá aí o subúrbio rapper, o Tagus Park, o aeroporto, um centro comercial, a Rua da Estrada, gente fina, pobres de tudo, e tudo que não seja a bendita imagem da cidade canónica com as suas ruas, avenidas e praças. A urbanização é um extenso mosaico de muitas e variegadas gentes e ofícios espalhados por territórios diversos, descontínuos, desconfinados e de muitos nomes.

 

Álvaro Domingues, licenciado em geografia, doutorado em Geografia Humana e professor e investigador na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto

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