Comentário Carmen Lemos: Hotel Vincci Porto ou “o diálogo”

09.05.2016

Decidi fazer as malas e rumar ao Porto.

 

Ser turista e conhecer de perto a renovação que está acontecer. Conhecendo o Porto de outros tempos é de facto uma nova cidade que está a aparecer, com o brilho dos azulejos das fachadas pontuadas pelos cinzentos das cantarias ricas, das caixilharias brancas trabalhadas, dos ritmos fortes e marcantes das estreitas frentes dos lotes, do arvoredo e espaços verdes que existem por toda a parte, de uma multidão colorida que visita a cidade.

 

E que melhor lugar para esta peregrinação para ficar do que o Hotel Vincci ali ao lado do Palácio de Cristal debruçado sobre o Douro? Prémio Construir 2015 para melhor projecto de recuperação e Prémio Nacional Reabilitação Urbana na categoria turismo também em 2015, ano da sua abertura, após um trabalho de reabilitação da autoria do Arq. José Carlos Cruz que transformou em hotel o antigo entreposto frigorífico do peixe, um edifício inovador e arrojado de arquitectura industrial da autoria do Arq. Januário Godinho construído entre 1933-1935.

 

A antiga Bolsa do Pescado faz parte da historia do Porto pelo seu passado ligado à vida económica da região mas também por ser uma primeira obra de referência do inicio da arquitectura modernista e do seu arquitecto, pelo uso dos novos materiais e do betão para criar espaços funcionais adequados ao uso industrial e pela qualidade arquitectónica da integração na cidade tornando-se parte do seu património. É notável a forma como o Arq. José Carlos Cruz conseguiu reinventar o edifício que se encontrava abandonado, a estrutura de betão lindíssima e parte do programa funcional, criando um novo objecto arquitectónico em que dialogam as linguagens das diferentes épocas.

 

O amplo espaço interior que abrigava a lota, a galeria em consola que percorria todo este espaço, palco de dias de azáfama é hoje um espaço tranquilo de serviço de excelência onde a decoração, o mobiliário reforçam a simultaneamente a identidade do edifício e a sua modernidade. 

 

Na fachada, fortemente marcada pelo ritmo da estrutura e dos vãos, os discretos baixos-relevos originais remetem para o uso original do edifício. Foi a única referência que encontrei aqui a todo este enquadramento admirável.

 

Carmen Lemos é arquitecta, possui uma pós-graduação em Recuperação de Centros Urbanos pela ETAC/UNESCO, um curso de Gestão Pública na Administração Local/CEFA e é técnica superior na área do Planeamento. 

TAGS: Comentário , Carmen Lemos , turismo , território
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