Comentário de Manuela Synek: José Espinho, um designer português antes do tempo

04.04.2016

Recomendo vivamente uma visita à exposição Vida e Obra do Arquiteto Designer José Espinho (1915-1973) que está no Mude em memória do primeiro centenário do seu nascimento. Pela primeira vez é revelado o percurso de uma figura quase desconhecida do grande público, que possui um trabalho especialmente importante na vertente do design de interiores e do espaço público, sendo um dos pioneiros desta disciplina.

 

Nasceu no tempo em que era considerado simplesmente como um decorador, onde ser arquiteto de interiores não era profissão, em que o design não tinha plena autonomia nem se falava de modo algum em design industrial.

 

É autor de uma vasta obra realizada durante quarenta anos que abarca tanto a arquitetura como diversas vertentes do design, desde o produto em si, o lado efémero, a forma expositiva e a vertente gráfica por onde começou a trabalhar.

 

O seu caminho estende-se particularmente na intervenção direta de edifícios a partir dos anos 50, período onde se deu o boom do turismo com a construção de novos edifícios na cidade, muitos deles se tornaram emblemáticos, alguns demolidos ou transformados após sofrerem profundas remodelações, acabando por ser desvirtuados no seu espaço interior, representando uma grande perda do nosso património arquitetónico e identidade cultural.

 

Era um designer sem saber que o era, como sintetiza Carlos Galamba O Espinho foi a primeira pessoa a fazer design sem dar por isso. Daciano Costa chegou mesmo a dizer-lhe que tudo o que fazia era design.

 

Manuela Synek é historiadora e crítica de arte. A autora escreve, por opção, ao abrigo do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

TAGS: Comentário , Manuela Synek , José Espinho , designer , exposição
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