Comentário Miguel Pimentel:"Porquê planear para a acessibilidade em lugar da mobilidade?"

18.11.2015

Nas últimas décadas temos visto vários investimentos em infraestruturas de transportes, nomeadamente na rede das autoestradas urbanas e interurbanas com o pretexto do descongestionamento das redes de hierarquia inferior. Como tal a cultura automóvel levou a uma série de tendências insustentáveis, como o aumento médio das distâncias de viagem e aumento dos níveis de dependência do automóvel e, por consequência, a criação do “paradoxo pendular”. Este postula que, na escolha do local para viver, as pessoas tendem a subavaliar o “sofrimento” da viagem quotidiana casa-trabalho, sendo facilmente seduzíveis por uma casa maior mais longe dos centros urbanos, o que resulta na centrifugação do território.

 

Mudar o foco do planeamento urbano de transportes de forma orientada para a acessibilidade pode ajudar a ver opções mais sustentáveis, como por exemplo, caminhar, andar de bicicleta, maior utilização de transportes públicos ou mesmo viagens mais curtas de carro, podem contribui, sob certas condições de uso do solo (por exemplo, densidades mais altas, mais ajustadas a um mix funcional), fornecer melhores condições de acessibilidade, permitindo francos desenvolvimentos em questões fundamentais do ambiente urbano onde os diversos modos coabitam.

 

O conceito de acessibilidade fica então subjacente a uma interação do sistema de transportes e uso do solo, fornecendo um contexto útil para uma visão integrada do planeamento territorial, contemplado questões que são estruturantes para a qualidade de vida das populações. Por muito distante que esta visão possa parecer na tradição do planeamento em Portugal, afigurar-se fundamental iniciar o longo percurso para a implementação destes conceitos na prática real.  

 

Miguel Pimentel é consultor de mobilidade, Eng. Civil, Mestre em Planeamento de Transportes e Doutorando em Planeamento e Ordenamento do Território na FEUP (CITTA-Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente). 

TAGS: comentário , Miguel Pimentel , acessibilidade , mobilidade
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