Editorial de João Pedro Costa: Lisboa City Break

22.04.2016

Muito se tem discutido, recentemente, acerca dos benefícios e dos excessos do turismo urbano nas grandes cidades, fenómeno emergente e já expressivo, por exemplo, em Lisboa.

 

Esta é uma dinâmica global, guiada pela oportunidade que os voos low cost vieram dar, entre outros, ao turismo cultural, ao turismo de congressos, ou aos pacotes city break; e se, nestas áreas, Lisboa já era competitiva, a crescente insegurança que os media associam aos principais destinos do centro da Europa, mais atrativos para a guerra psicológica do terrorismo, tem vindo a reforçar a atratividade de Lisboa, juntando-se a segurança aos já conhecidos bem-receber, bom clima, cidade das sete colinas, boa gastronomia e bom vinho, entre outros.

 

Este breve editorial não é, porém, o momento para discutir estruturadamente o fenómeno, seja nas questões ligadas ao seu planeamento (a rápida evolução, entre outros, das políticas aeroportuária, de transportes urbanos, de equipamentos coletivos, de espaço público, de turismo, de comunicação, de alojamento), seja nas associadas à prevenção de impactos (por exemplo, a gentrificação turística, a descaracterização social, as implicações de custo de vida local).

 

Importa, porém, perceber que esta dinâmica crescente significa, também, uma mudança de paradigma na competitividade da cidade, na sua capacidade atrativa.

 

O sol, que agora finalmente aparenta regressar, os miradouros, os elétricos, a calçada, os pastéis de nata, o fado; Belém, a Baixa Pombalina, o Bairro Alto, Alfama, o Castelo ou o Parque das Nações; o CCB, a Gulbenkian, o Museu do Chiado e toda a rede de museus da cidade; continuando na agenda turística, não chegam para preencher o efeito de atração da cidade, que agora depende de muito mais.

 

No novo paradigma, além da evolução do conceito de hotelaria (do boom dos hotéis da cidade, aos hostels com personalidade e ao fenómeno da era digital, que suporta os HomeAway ou os Uniplaces), é a diversidade e a singularidade que imperam. O turista que sair das rotas das massas turísticas e viver o lado “genuíno” da cidade, viver 2 ou 3 dias como os “nativos”, os “índios urbanos locais”, que são pessoas como eles que vivem noutra cidade.

 

Não querem ser “turistas”, portanto, no sentido clássico, mas antes experimentar uma cidade na sua “elite cultural”, “étnica”, onde as massas não chegam. Consumindo barato (alguns nem por isso), procuram o distinto e ainda não vulgarizado… nada que não façamos também nas nossas viagens; encontrando em meios de comunicação especializados, como a revista Time Out, um meio de divulgação de novos produtos a consumir. Por exemplo, num rápido olhar pelos recentes temas de capa desta revista, combinam-se temas clássicos, como os próximos espetáculos do CCB, do São Jorge ou do MEO Arena, ou o onde comprar, do luxo ao “alternativo”, com o lado exploratório da gastronomia “étnica”, do bom e barato, ou mesmo aos mercados de peixe-fresco e às receitas culinárias detalhadas do tipo faça você mesmo a comia local.

 

O turismo urbano está aí.

 

João Pedro Costa é o director do Jornal Arquitecturas.

TAGS: Editorial , João Pedro Costa
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