Uma das principais conquistas do projeto europeu, a liberdade de circulação de pessoas e bens, acompanhada pela ampliação do espaço económico e de emprego, está já no sangue das novas gerações.
Tal como para o autor destas linhas, nascido em 1970, a Democracia sempre existiu e os regimes anteriores são apenas registos bibliográficos e testemunhais de um passado que não conheceu; para as noves gerações, o projeto de vida faz-se na Europa.
É obrigatório fazer uma mobilidade Erasmus no curso superior, o que na minha geração era um luxo, de preferência visitando, nos fins-de-semana, os colegas de outras cidades; o mercado de emprego é a Europa, e não apenas Portugal; o comboio ficou parado e o interrail faz-se de avião low cost; o fim-de-semana que se fazia no Alentejo ou no norte faz-se agora em Praga, Londres ou Berlim; O Independente ou a RTP, onde procurávamos novas notícias, foram substituídos pela internet, global, dispensando o suporte de papel e utilizando o plasma apenas para jogar PS4; entre muitas outras transformações.
O espaço público das novas gerações é, no mínimo, o espaço europeu. É mensurável em tempo e não em espaço, o tempo de aceder à informação digital, ou o tempo de uma deslocação numa low cost, que pode ser mais barata do que algumas das viagens de táxi a sair do Aeroporto de Lisboa. É neste espaço público que se acede a uma universidade, que se encontra emprego, que se fazem amigos, que se constitui família, que se constroem as diferentes variantes da Democracia.
Deste modo, todas as ameaças ao pleno acesso ao espaço público são ameaças à liberdade. E a insegurança causada por atentados como os de Madrid, de Londres, de Paris ou de Bruxelas quer promover exatamente isso: que os europeus, receosos, restrinjam o acesso ao seu espaço público, portanto, diminuindo a sua Democracia comum.
Qualquer medida de retrocesso, motivada pelo terrorismo ou pelas migrações, que para os mais velhos significa um enorme passo atrás no sonho do projeto europeu, para as novas gerações é muito mais que isso: significa demolir os alicerces sobre os quais os jovens foram criados, retirar-lhes algo que seria apenas o ponto de partida para sonhar mais alto.
João Pedro Costa é o director do Jornal Arquitecturas.