Opinião de Armando Silva Afonso: Os princípios dos 5R

02.09.2016

Foi há cerca de cinco anos que a ANQIP propôs e defendeu a adoção de um princípio de 5R para sistematizar a eficiência hídrica nos edifícios: Reduzir os consumos, Reduzir as perdas e desperdícios, Reutilizar a água, Reciclar a água e Recorrer a origens alternativas. Foram vários os especialistas internacionais que adotaram este princípio, que aparece já citado em diversas publicações internacionais e que, no meio académico, tem servido de referência em diversos trabalhos.

 

Recentemente, a investigadora Corinne Trommsdorf, gestora do Programa “Cities of the Future” da International Water Association (IWA), veio propor também um princípio os 5R, com a mesma filosofia, mas mais abrangente: ao nível das cidades (e não dos edifícios) e para todos os recursos.

 

De facto, as cidades estão a crescer a um ritmo sem precedentes. A população nas cidades está a aumentar, em todo o mundo, ao ritmo impressionante de 200.000 novos habitantes por dia! Este crescimento obriga a pensar as infraestruturas urbanas de forma diferente, pois o modelo atual em que suportamos o aumento dessas infraestruturas, baseado num fornecimento crescente às cidades de novos recursos, não pode continuar de forma exponencial.

 

A palavra-chave para a resolução do problema é, segundo Corinne Trommsdorf, “serviços regenerativos”... Ela chama a atenção para o facto de que o elevado e crescente número de pessoas concentradas em áreas geográficas relativamente pequenas nos vai obrigar a ser mais criativos sobre a forma como usamos os recursos naturais. Teremos que reutilizá-los e regenerá-los para que seja possível minimizar o consumo de novos recursos nas nossas cidades.

 

Para além do aumento exponencial da população urbana, as alterações climáticas também estão afetar os ciclos urbanos dos recursos, em particular no que se refere à água, com situações inéditas de inundação ou “stress” hídrico. Por isso, é necessário planear de forma diferente o uso dos recursos nas cidades, evoluindo para sistemas que minimizem as entradas de mais recursos, mesmo em cidades sem rápido crescimento populacional.

 

Segundo Corinne Trommsdorf, o princípio dos 5R para as cidades passará então por “Reduzir o uso de recursos”; “Reutilizar a água para usos diferentes compatíveis com a sua qualidade”; “Reciclar recursos ou materiais, tais como os nutrientes ou a matéria orgânica”; “Recuperar a energia” e, finalmente, “Reabastecer o ambiente envolvente, mas descarregando apenas quantidades que podem ser eliminadas ou absorvidas pelo ambiente natural”.

 

Atualmente, consumimos os recursos de 1,6 planetas Terra e é por isso que, no passado dia 8 de Agosto, atingimos o chamado “dia da sobrecarga”. Uma data que nos diz que já usamos este ano mais recursos da natureza do que a Terra é capaz de repor no ano inteiro. 

 

Por isso, seja qual for o âmbito em que é aplicado um princípio de 5R, ele traduz, no fundo, uma verdade essencial para garantir o nosso futuro sustentável: o planeta não pode continuar a utilizar os recursos como até aqui! 

 

Armando Silva Afonso é professor da Universidade de Aveiro e fundador e atual presidente da direção da ANQIP (Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais).

TAGS: Opinião , Armando Silva Afonso , eficiência energética e hídrica
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