O Prémio Pritzker que tem o objetivo de homenagear os arquitetos mais inovadores do mundo foi atribuído este ano ao japonês Shigeru Ban tanto pela sua arquitetura como pelo seu envolvimento ativo nos projetos de estruturas precárias.
A defesa de causas humanitárias foi um dos fatores determinantes para a atribuição do Prémio, tendo o Júri realçado o modo singular como este arquiteto trabalha os materiais. Shigeru viu esta distinção como um encorajamento e um estímulo para a sua carreira que tem já cerca de trinta anos de atividade.
Quando se tornou arquiteto ficou dececionado com o facto de grande parte da arquitetura ser feita para os privilegiados e não para a sociedade em geral.
Alguns dos projetos consistentes mais originais de Shigeru são o Museu de Arte Moderna Centro Pompidou, em Metz; a Casa sem Paredes em Nagano, a Crescent House no Japão e a Curtain Wall House em Tóquio.
Mesmo nas construções sólidas existe uma presença de um poder criativo onde o caráter experimental é permanente com uma trajetória superando os limites técnicos dos materiais, conciliando um aspeto funcional com a defesa de valores plásticos.
No âmbito do social, apesar das preocupações práticas as linhas mestras do seu percurso não deixam de ter na sua linguagem marcas preponderantes de uma gramática artística, desenvolvendo um caminho tanto no domínio concetual como sensitivo.
Os arquitetos precisam de ter um papel social maior. Podemos usar o nosso conhecimento para pessoas que precisam da nossa ajuda. A minha experiência está disponível para todos, privilegiados e necessitados.
Tem dedicado parte da sua carreira à construção de arquiteturas de qualidade utilizando materiais de baixo custo para vítimas que sofreram catástrofes naturais.
Nasceu em Tóquio há 56 anos, foi fascinado pelo trabalho de carpintaria, acabando por se tornar arquiteto graças a uma maqueta que foi premiada na escola. Aliás, a sua obra tem influência na eficiência da carpintaria japonesa, empenhado em ajudar quem mais precisa, acaba por fundar em 1995 a Voluntary Architect’s Network tendo percorrido o mundo inteiro dentro do espírito de cumprir uma missão.
O que mais o caracteriza é que paralelamente à dedicação a causas nobres humanitárias conseguir aproveitar o caráter inventivo dos materiais oferecendo uma estética formal original. É o empenho nas causas humanitárias bem como a elegância e a inovação dos materiais que mais se distingue.
Começou essas experiências com a construção de habitações em papel e cartão no qual se tornou especialista no emprego de materiais recicláveis menos agressivos ao meio ambiente, atitude precoce face às preocupações ambientais, rejeitando no entanto de ser rotulado de arquiteto ecológico.
Quando comecei a trabalhar, ninguém falava sobre o meio ambiente.
É um exemplo de que se pode ser espetacular com sobriedade e simplicidade, dotando lugares mais estéticos para aqueles que mais necessitam.
Manuela Synek é historiadora e crítica de arte. A autora escreve, por opção, ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.