Editorial de João Pedro Costa: "Saber viver com o mau tempo"

16.02.2016

Nesta segunda semana de Fevereiro de 2016, alguns dias seguidos de chuva mais intensa, culminando num temporal de fim-de-semana, recolocaram na agenda o tema mau tempo em Portugal, com expressão em inundações, ventos fortes, neve e agitação marítima, características conhecidas desta frente atlântica da Europa.

 

Cidades como Ponte de Lima, Ponte da Barca, Peso da Régua, Santo Tirso, Penacova, Águeda, Coimbra, apenas para citar algumas de forma aleatória foram atingidas por parte das mais de 1.600 ocorrências registadas em todo o país em dois dias, de acordo com os dados da Autoridade Nacional de Proteção Civil; o fenómeno centrou-se nas regiões do Norte e Centro, pelo que Lisboa, Algarve e ilhas desta vez escaparam. Isto, com toda a população atempadamente avisada pelos alertas amarelos, laranjas e vermelhos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

 

Não se verificou, até ao momento, a ocorrência de fenómenos climatológicos extremos, o que faz destes dias algo de normal em Portugal, onde sabemos que existe mau tempo. Como, aliás, acontece em qualquer País.

 

As zonas atingidas foram as já à muito conhecidas, e a grande maioria está preparada para acolher as inundações, travar a ondulação forte, ou suportar o vento. Foram objeto de intervenções nos últimos anos, que permitiram criar espaços públicos ribeirinhos, mas também acolher as inundações quando têm lugar; ou costeiros, preparados para os dias de mar mais agitado.

 

Nada demais, portanto, em mais uns dias que testam as cidades resilientes que vamos moldando num tempo longo, como uma obra coletiva, que, felizmente, é mais forte que as visões de curto prazo da agitação política e dos climas económicos que têm marcado os últimos tempos.

 

O mau tempo em Portugal não é surpreendente, e a grande maioria dos impactos destruidores acontece em situações diagnosticadas, que ainda não puderam ser corrigidas, ou adaptadas. No território, após algumas décadas de erros e de crescimento urbano pouco regrado, os últimos tempos têm sido de recuperação, sem precisarmos de uma troika ou de proteção europeia.

 

Em Portugal, portanto, o território está a reaprender serenamente a viver com o mau tempo.

Era a mesma capacidade de consensualização de diagnósticos e de realização de uma obra coletiva, em trabalho continuado, que o País da Política também precisava.

 

João Pedro Costa é o director do Jornal Arquitecturas.

TAGS: Editorial , João Pedro Costa
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