Editorial de João Pedro Costa: "O Arquiteto, o PREC de 2015 e o Povo"

04.01.2016

Não bastasse a profunda crise económica dos últimos anos, em que se discute, a cada dia, em que buraco do cinto se seguram as calças (para não voltarem a ficar na mão…), a linguagem PRECquiniana da formação do XXI Governo veio ajudar a reposicionar algumas questões.

 

No que respeita em particular ao papel do Arquiteto (lato senso – Arquiteto mesmo, Urbanista, Paisagista, Engenheiro mesmo …), se já leva vários anos a alargar o seu âmbito profissional, da grande para a pequena obra, da obra nova para a reabilitação, da encomenda pública para a privada ou mesmo para a promoção própria, do projeto para a conceção-construção, do edifício para o design ou para o território, dos grandes gabinetes para os pequenos gabinetes em rede e com parcerias, entre muitos outros, fruto da crise económica; cabe-lhe agora repensar em que medida serve o Povo, fruto do revivalismo PRECquiniano.

 

Depois dos Polis ou da Parque Escolar, não fazem sentido novos processos SAAL. Para onde reencaminhar então o voluntarismo que brota das veias?

 

Cabe ao Arquiteto revolucionário andar atrás dos candidatos a políticos que podem trazer a encomenda? (normalmente os de esquerda, que costumam ser mais generosos… embora aqui parece que se serve mais a si próprio que ao Povo…)

 

Cabe ao Arquiteto revolucionário ser ele mesmo o político? (com todo o cuidado em conter o seu impulso de projetista que quer impor as suas ideias aos outros, em detrimento da função de democrata negociador…)

 

Cabe ao Arquiteto sair para a rua e passar os dias em bairros de génese ilegal a apoiar as comunidades em processos participativos? (mediador social, portanto…)

 

Cabe ao Arquiteto continuar centrado naquilo que o distingue, nas palavras do Mestre Francisco Silva Dias “levar o BELO a toda a comunidade”? (aqui sim, com toda a modéstia da pequena obra de reabilitação, do espaço público, de uma administração pública colaborativa… centrado na contínua mudança de conceitos e formas do BELO contemporâneo…)

 

Ou o Arquiteto já não é mais revolucionário e é hoje um conservador membro do status quo? (embora seja difícil saber de qual, pois os donos de tudo isto passam cada vez mais depressa…)

 

Deixando a política para os políticos, ainda que sem renegar a presença de sangue social-democrata, não posso deixar de retirar algo de bom da experiência PRECquiniana recente.

 

Como serve o Arquiteto de hoje o Povo?

 

João Pedro Costa é o director do Jornal Arquitecturas.

TAGS: editorial , João Pedro Costa , o arquitecto de hoje
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