Opinião de Manuela Synek: "Retrospetiva de Frank Ghery contagia a cidade de Paris"

29.10.2014

Está a decorrer uma importante exposição da obra deste arquiteto no Centro Pompidou, em Paris, sendo a sua maior retrospetiva europeia, autor do icónico Museu Guggenheim de Bilbau e que já recebeu o Pritzker, entretanto foi este ano galardoado com o Prémio Príncipe das Astúrias das Artes.

 

Utiliza no seu trabalho uma gramática resultante de um estilo inconfundível, no plano visual criticado por correntes arquitetónicas mais formalistas que desejam valorizar os espaços e os volumes de linhas herméticas e de uma maior subtileza. Não sou um starchitect, como me querem rotular. Sou simplesmente um arquiteto.

 

A exposição foi organizada em torno do urbanismo e dos novos sistemas de design digital onde o dispositivo cénico foi concebido em colaboração com o seu atelier F.G. Partners. A mostra reúne centenas de desenhos, maquetas, materiais audiovisuais, documentos, oferecendo uma visão global do seu percurso arquitetónico a partir da década de 60 até aos dias de hoje.

 

Foi feita uma inventariação das suas obras com as metodologias utilizadas e os materiais empregues que introduziu nos seus projetos, sendo alguns deles surpreendentemente pobres. O objetivo inicial do evento foi desenhar a evolução da sua linguagem plástica que se tornou única. A exposição abriu no momento em que Ghery tem estado presente em França; depois de construir o Centro Americano nos anos 90, regressou com a Fondation Luma, em Arles e o edifício Fondation Louis Vuitton, em Paris.

 

É um dos mais singulares nomes contemporâneos onde as suas criações se tornaram emblemáticas, revolucionando a história e a estética da arquitetura das cidades. A sua obra inscreve e contagia positivamente o espaço urbano, envolvendo tudo o que rodeia à sua volta, criando não só arquitetura mas urbanismo. Assim, as suas construções podem identificar-se com parte das cidades onde também pertencem. Existe um cruzamento estreito entre os espaços escultórico e arquitetónico, havendo dificuldade em separar os dois campos, vivendo nessa ambiguidade deliberada, num processo de hibridização de linguagens.

 

Essa preocupação remonta ao período que marca a sua verdadeira ascensão em Los Angeles na década de 60, no seu encontro com artistas espaciais que tratam de projetar peças no espaço. As suas criações têm fortes referências ao cubismo, à arte povera e ao construtivismo. A sua obra caracteriza-se por um jogo virtuoso de formas abertas, irregulares, orgânicas e rebuscadas que se projetam para o exterior.

 

A poética do excesso pode ser em última análise uma crítica ao excesso que existe no quotidiano das pessoas. As suas construções distinguem-se por projetos arrojados quanto à sua conceção volumétrica onde a espetacularidade ocupa o lugar central, não deixando ninguém indiferente. «Em Bilbau, usámos aço para ajudar a economia local e buscámos uma liga de titânio porque aí chove muito e o titânio, em contacto com a água, fica com a cor dourada, é um milagre».

 

Manuela Synek é Historiadora e Crítica de Arte. A autora escreve, por opção ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

TAGS: Opinião , Manuela Synek , Jornal Arquitecturas , Uma retrospetiva de Frank Ghery contagia a cidade de Paris
Vai gostar de ver
VOLTAR