Opinião Manuela Synek: «Rafael Moneo: Percurso do Pensamento de um Arquiteto»

15.12.2014

Recentemente foi exposta uma mostra retrospetiva sobre o trabalho deste arquiteto espanhol (n.1937), natural de Navarra, no espaço da Garagem Sul do CCB, com a curadoria de González de Canales. É a primeira vez que um conjunto tão significativo de desenhos originais vê a luz do dia para mostrar o ofício e o pensamento de R. M. É um dos melhores autores a nível mundial na área da arquitetura contemporânea, tendo sido o único nome espanhol a receber o Prémio Pritzker.

 

Trata-se de uma exposição itinerante que nasceu na Fundação Barrié, em Santiago de Compostela, que aborda uma viagem de 50 anos de produção com algo de pessoal e biográfico. A exposição possui uma montagem com o seu trajeto distribuído por maquetas, desenhos e fotografias. Foi concebida como um percurso através dos materiais de arquivo entre 1961 e 2013, distribuído em secções biográficas em que as ideias chave consistem na sua formação; na identidade própria; no salto internacional; nos Anos da América; na obra global e no século XXI. Os primeiros projetos dos anos 60, ainda realizados no atelier de Sáenz de Oiza, em que deu os primeiros passos na profissão.

 

Esteve em Roma onde assistiu à materialidade da arquitetura ao longo do tempo; foi também Professor nos Estados Unidos e em Espanha para partilhar os seus conhecimentos. Com o aumento da construção de edifícios em Madrid, acabou por regressar a esta cidade, a sua preferida, dado que condensa a realidade espanhola de forma mais abrangente.

 

A mostra enfatiza a importância do desenho como ferramenta fundamental, na qual se baseou para desenvolver a sua obra e como meio para definir a prática como reflexão do seu pensamento teórico. A qualidade expressiva deles reflete a experiência do autor onde se impõe pela funcionalidade. Os desenhos eram estruturados e delineados, mais tarde ficaram mais sóbrios e concetuais.

 

Um dos seus traços característicos consiste em ter sido capaz de resistir à criação de um estilo reconhecível, e não se cingir às tendências de cada época, não aplicando uma mesma linguagem onde cada um exige uma solução distinta, mas existindo algo que os une, no sentido de haver a mesma atitude da parte de Moneo. É importante ter uma visão global e isso está presente nas minhas obras, partilham o mesmo conhecimento. Estamos perante uma reflexão sobre a forma como os edifícios se entrelaçam com a história da cidade e da arquitetura recente, através do seu olhar assente numa base disciplinar e marcante para as futuras gerações. Nunca me senti senão arquiteto, apesar da filosofia continuar presente.

 

A sua leitura tem interessado os arquitetos, oferecendo metáforas úteis para iluminar aspetos da realidade. R. Moneo gosta de voltar aos seus edifícios e sentir a atmosfera e a vida deles depois de construídos. Os edifícios deixam de ser nossos; ficando só nossos os que não foram construídos. É um exercício que aprendeu ao longo da vida, a libertar-se daquilo que construiu.

 

Manuela Synek é Historiadora e Crítica de Arte. A autora escreve, por opção ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

TAGS: Opinião , Manuela Synek , Rafael Moneo
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